Um bom tempo atrás eu escrevi rapidamente sobre o sistema de saúde australiano, mas tinha sido sob uma ótica completamente teórica. Não havia sido necessário usar muito o sistema de saúde, e eu nem sequer tinha estado em um hospital aqui. Semana passada, finalmente, ganhei um pouco mais de experiência em "primeira mão", então agora posso escrever um pouco mais a respeito...

Antes de qualquer coisa: está tudo bem com todo mundo aqui, inclusive o gato. Eu tive amigdalite e fiquei alguns dias "de molho", mas já estou completamente recuperado e sem problemas. Foi desconfortável enquanto durou, mas nada muito grave.

O "problema" começou no dia 21, uma sexta-feira; só um pequeno desconforto ao engolir. Sábado estava um pouquinho pior, mas ainda nada demais. Domingo pela manhã estava bem o suficiente para levar o gato ao veterinário (vacinação anual), mas à tarde fui ficando progressivamente pior: febre, dor de cabeça, dor de ouvido, cada vez mais dolorido para engolir etc. etc. À noite só o que eu comi foi sopa.

Na segunda-feira, obviamente, não fui trabalhar, e logo cedo liguei para o médico e marquei uma consulta para o início da tarde. Uma das vantagens de morar no centro é a proximidade da área "hospitalar": existem vários hospitais, de diferentes especialidades, em uma área pequena, a umas dez quadras de casa, e o consultório do meu médico (clínico geral; aqui todo mundo tem um) fica na mesma região.

O médico olhou a minha garganta e rapidamente declarou que era amigdalite. Ele me perguntou se eu conseguia engolir, eu disse que sim, mas com alguma dificuldade. Daí me deu na hora uma injeção de penicilina e receitou cápsulas para tomar de seis em seis horas.

Até sair do médico foi tudo de graça. O sistema de saúde pública, chamado Medicare, cobre o custo de consultas médicas até um certo valor, e cada médico pode optar por cobrar só aquele valor ou cobrar mais (se cobrar mais, o paciente precisa pagar). Além disso, o médico pode cobrar direto do Medicare ou cobrar do paciente e deixar que este peça um reembolso (que, pedido no escritório do Medicare, sai na hora).

O meu médico cobra direto do Medicare (em geral, a consulta de um clínico geral não passa do valor coberto pelo Medicare, enquanto a consulta com um especialista quase sempre vai exigir que o paciente pague uma parte; isso se a consulta for indicada pelo clínico geral; quem quiser uma segunda opinião, por exemplo, tem de pagar tudo do próprio bolso; plano de saúde aqui não cobre consulta nem exames).

Os remédios, no entanto, não são de graça. O governo subsidia o custo de certos remédios "essenciais", mas parte do custo continua com o paciente (até um certo limite anual). Outros remédios não são cobertos e precisam ser pagos integralmente.

Ou seja, não dá para prever o quanto será gasto anualmente com saúde. Sabe-se apenas o que (ambulância e internação) e quanto (que varia bastante) o plano de saúde cobre, e a quantidade máxima de gastos com médicos e remédios (a partir de um determinado valor, o governo paga tudo). O interessante é que, apesar de os planos não cobrirem consultas nem exames, podem incluir tratamento dentário, óculos e lentes de contato, terapia psicológica, dietas como Vigilantes do Peso, etc.

Outro detalhe: diferentemente do que acontece no Brasil, remédios que só podem ser vendidos com receita são vendidos apenas com receita.

Outra coisa que o médico disse é que, se piorasse, eu deveria ir para a emergência do Eye and Ear Hospital (Hospital do Olho e Ouvido) que, apesar do nome, também cuida de nariz e garganta. E, claro, piorou. À noite a garganta estava muito dolorida, doía muito até para engolir líquidos e eu não tinha comido nada o dia todo. E foi assim que fiquei sabendo como funciona a emergência de um hospital público aqui.

Logo na entrada do hospital uma recepcionista pergunta se o que se quer é ver um médico; quando se diz sim, ela aponta na direção da emergência. Lá, outra recepcionista pega os dados do paciente (nome, endereço, número do Medicare) e diz para sentar e esperar por uma enfermeira. Até aí não houve nenhuma menção do problema de saúde que levou o paciente ao hospital.

Na área de espera, um cartaz grande explicava como funciona o setor de emergência: o primeiro contato é com uma enfermeira de triagem, que faz um exame básico, vê os sintomas e decide quão prioritário é o atendimento. Ela não faz nenhum tratamento, não receita nada; em suma, não resolve o problema. Só gerencia a lista de espera para o médico. Ou seja, o atendimento não é na ordem de chegada, mas na ordem de gravidade.

Depois de ser "entrevistado" pela enfermeira (a espera foi de uma meia hora) voltei à área de espera para aguardar ser chamado pelo médico. E o tempo de espera pode ser longo. Quando perguntei "quão longo?", a resposta foi que não sabiam, mas podia ser bem longo porque só havia um médico atendendo àquela hora. "Bem longo, mais de um hora?" A moça riu e respondeu "uma hora, aqui, não é um tempo longo".

Tenho que admitir que uma coisa que me chamou a atenção foi quão saudáveis os outros pacientes pareciam. Ninguém estava visivelmente doente, machucado, nem nada do gênero. Na minha triagem eu era, se não o paciente mais grave, ao menos o mais "desconfortável". Deviam ter umas seis ou sete pessoas esperando atendimento quando cheguei e, na sala de espera, uma TV passava Scrubs (com legendas, claro, para não prejudicar pacientes com deficiência auditiva).

Resumindo, a espera foi de quase duas horas. A médica pediu muitas desculpas pela demora e comentou que só ela estava atendendo porque o hospital não tinha recebido fundos do governo para pagar mais médicos. Examinou tudo, perguntou sobre o remédio que estava tomando e depois parecia não saber bem o que fazer. Disse que eu não estava doente o suficiente para ser internado, mas nitidamente não estava muito bem. Ela acabou me mandando para casa com uma receita para remédio para dor, pois antibióticos eu já tinha. E, como eu não tinha como comprar remédios àquela hora (mais de uma da manhã), recebi dois comprimidos. Ah, a médica pediu que eu voltasse (com hora marcada) dois dias depois para nova consulta (e o folheto do hospital alertava: "reserve pelo menos duas horas").

Uma coisa tem que ser dita: analgésicos de hospital, extra-fortes, são uma das melhores coisas que a ciência já fez pela humanidade. Isso e antibióticos. Com aqueles dois comprimidos, dormi muito bem. No dia seguinte eu não estava sensivelmente melhor; a garganta continuava muito inchada e engolir ainda era muito difícil. Mas meia hora depois de tomar os analgésicos eu conseguia comer qualquer coisa sem problemas (por umas duas horas). Isso já melhorou incrivelmente a minha "qualidade de vida".

E, finalmente no dia seguinte, eu já estava melhor, tanto que não precisei mais dos analgésicos. Eu podia sentir que estava melhorando a cada hora, e quando voltei ao hospital, à tarde, já estava me sentindo ótimo (incidentalmente, ir àquele hospital com hora marcada é bem diferente de ir ao atendimento de emergência; fui visto pela médica rapidinho depois que cheguei, não esperei nem 15 minutos). No dia seguinte já fui trabalhar. Estou tomando antibióticos até hoje, porque o tratamento precisa ir até o fim, mas não tive mais sintomas.

Bom, é isso. O atendimento público funcionou bem, apesar da longa demora na emergência (mas, admito, não era um caso de vida e morte — e aquele hospital não parece tratar de muitos casos assim). Todo o atendimento no hospital e no consultório foi gratuito (inclusive os remédios que me deram na hora), mas os remédios comprados em farmácia foram um pouco caros. Pelo menos estou recuperado. Espero levar mais uns 15 anos até precisar de antibióticos de novo. E tampouco quero voltar a um hospital em breve.