Será que o problema (bom, um dos problemas) do Brasil é ter "escolhido" o esporte errado?

Explico. Na Austrália, existem três esportes muito populares, tanto quanto futebol no Brasil: cricket, rugby e futebol australiano. O primeiro é popular no país todo, os outros dois são um pouco mais "regionais": futebol australiano é muito mais forte em Victoria (onde fica Melbourne), rugby em New South Wales (Sydney) e Queensland (Brisbane). Cricket e rugby também são populares no resto dos países da comunidade britânica (e, curiosamente, na Argentina), enquanto que futebol australiano só se joga aqui.

O "nosso" futebol não é tão popular aqui, mas existem times locais, formados principalmente por imigrantes europeus, que disputam torneios com públicos relativamente pequenos (há uma tentativa em andamento de criar uma liga e um campeonato nacional, nos moldes dos outros esportes, com o objetivo de ter um representante no Mundial Interclubes da FIFA, mas é algo meio incipiente ainda).

Pois bem, rugby e futebol australiano são esportes extremamente violentos. E, diferentemente do futebol americano, os jogadores não usam grandes proteções. Nas primeiras quatro rodadas dos campeonatos deste ano aconteceram pelo menos duas fraturas de clavícula, uma de mandíbula, uma na perna e uma fissura de crânio; e isso é o que me lembro agora, acho que houve mais. A torcida, por outro lado, tem comportamentos exemplares: o estádio é, sim, um lugar para ir com a família toda, e não sei de incidentes de violência, antes, durante ou depois dos jogos. Os jogos têm policiamento, sim, mas os policiais ficam na beira do campo sentados em cadeiras de praia, olhando o jogo (e não a torcida). E não existe separação entre torcidas: mesmo com dois times locais jogando, as torcidas são misturadas pelo estádio todo. Imaginem um Gre-Nal ou um Fla-Flu assim.

Ou um jogo entre South Melbourne e Preston, que é onde eu queria chegar. Recentemente ocorreram incidentes de brigas entre torcidas em jogos de futebol (o nosso futebol) aqui em Melbourne e em Sydney. Nos dois casos, apesar de policiamento intensivo, separação entre as torcidas e "barricadas" entre elas, houve invasão de campo, agressões a policiais e torcedores, arremessos de objetos etc. Cogita-se fazer os próximos jogos sem torcida ou exigir identificação dos torcedores na entrada do estádio (o público costuma ser ao redor de 7.000 pessoas). E não é algo isolado, há precedentes históricos de brigas entre torcidas de futebol aqui; assim como acontece na Europa.

Será que existe algo na dinâmica do futebol que leva a animosidades maiores entre torcidas do que em esportes mais violentos? No futebol australiano (como no hóckei sobre gelo dos EUA) é comum ocorrerem brigas entre jogadores, mas isso acaba (em geral) não se propagando para a torcida. Já no nosso futebol, os ânimos se acirram muito mais na torcida que no campo, em qualquer lugar do mundo; por quê?

(Tocando no assunto, a Zero Hora publicou uma reportagem hoje sobre "a geral do Grêmio", mostrando que não é exatamente um lugar muito agradável mesmo em dias pacíficos ("...os torcedores localizados na parte de cima da arquibancada descem os degraus correndo, levando quem está no caminho, como em uma avalanche..."). Não tenho motivos para crer que seja diferente na geral de qualquer outro estádio brasileiro. Por mais gremista que eu seja, se no estádio é assim, futebol para mim é na TV.)