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Dia 7 - 13.12.1999 - Tel Aviv

Mais um dia relativamente normal de trabalho. Acordei bem cedo, pulei o café da manhã e fui para a empresa. Para minha surpresa, parecia ter chovido durante a noite; o chão estava molhado e havia poças d'água em vários lugares. Já tinha sol, no entanto. E, para variar, o motorista tomou um caminho novamente diferente para ir do hotel à empresa.

Durante o dia, falando (via Internet) com uma colega de trabalho que já esteve em Israel a passeio, recebi algumas dicas culinárias e, hmm, culturais sobre coisas a experimentar no país. Uma dica foi falafel, que é um prato popular de origem árabe; dá para ele dizer que ele ocupa o lugar do nosso xis na culinária local. A outra dica foi narguilé, que é, digamos, um tipo de fumo. Experimentei o primeiro mas não o segundo (ainda assim, Luciane, obrigado pelas dicas :-)

O almoço foi simples ao ponto de ser decepcionante... não lembro qual era o nome do prato que eu escolhi, mas ele acabou se resumindo a pedaços de peru. Anotei mentalmente a idéia de pedir mais detalhes sobre os pratos antes de escolher os próximos.

E no táxi, na volta para o hotel, peguei o mesmo motorista do dia anterior. Animado pela coincidência, ele resolveu puxar papo. Ele era um israelense nativo que nunca tinha saído do país, e mostrou uma curiosidade genuína sobre os costumes e a cultura de outros lugares. Se colocou a disposição para eventuais perguntas que eu tivesse sobre Israel, e em troca fez várias perguntas sobre costumes cristãos. Por exemplo, foi ele quem me descreveu algumas regras da comida kosher (em um inglês terrível, algumas coisas que ele disse eu fui entender uns dois dias depois), e depois ele me perguntou se os cristãos tem alguma regra envolvendo comidas; a única que eu lembrei, e que eu falei para ele, foi a regra de não comer carne vermelha na Sexta-feira Santa ("Good Friday" em inglês, mas eu descrevi com "a sexta-feira antes da Páscoa"). Daí veio a pergunta óbvia "o que é Páscoa ?" Expliquei da melhor maneira que consegui, acho que ele entendeu; fiz menção ao fato de que a Páscoa acontece sempre perto do "Passover", uma festa judaica que não tem nada a ver com a Páscoa mas acontece na mesma época (a Última Ceia foi uma ceia de "passover", que eu não sei que nome tem em português, e a hóstia deriva do pão ázimo (sem fermento) usado nesta ceia).

Também foi ele quem fez o comentário sobre o "elevador de sabbath" não ser aceito por todos os rabinos como válido. Ele também me contou que, apesar de a maioria dos judeus não serem religiosos, existe um dia chamado "Yom Kippur" em que praticamente todo mundo vai às sinagogas; o nome da data em inglês é "Atonement Day", mas admito não saber a que ela se refere historicamente. Este ano, cai em 09/10. Ele me perguntou se havia algo similar no cristianismo, e comentei que o mais próximo em termos de comportamento seria o Natal (e Natal ele sabia o que era).

Ainda no assunto das festas religiosas... o jornal local tinha uma reportagem de meia página sobre porque o carnaval este ano seria quase um mês mais tarde; parece que a culpa é dos judeus. A questão é, eles usam um calendário diferente do nosso, mas também dividido em meses. Eles também tem o problema de sincronizar o movimento da Terra com o calendário; nós resolvemos isso com um dia extra a cada quatro anos, eles resolvem isto com um mês extra a cada X anos (não sei quantos anos). Bom, esse é um desses anos. Com esse mês extra, as festas judaicas acabam saindo mais tarde; por exemplo, o "passover" vai ser em 20/04, e costuma ser perto do final de março. Como eu comentei acima, a Páscoa é ligada ao "passover", e por isso a Sexta-Feira Santa vai ser no dia 21/04. Como a data do carnaval está ligada à da Páscoa, o carnaval também atrasa. E assim, os israelenses que gostam de vir para o Brasil para passar o Reveillon e o Carnaval no Rio não vão poder fazer isto esse ano...

Uma coisa que notei com este motorista, e também com os árabes do outro dia, é que o pessoal de Israel tende a ser muito hospitaleiro com visitantes e, me parece, com imigrantes. Eles também parecem ter muito orgulho do país; não é incomum ouvir eles falando em "nós" para se referir ao país em geral (algo como, "nós estamos irrigando as áreas mais secas ao redor de Tel Aviv", ou "nós tivemos que parar de tirar água do mar da Galiléia", ou mesmo "nós somos um país muito jovem mas estamos crescendo rápido"). Pode ser só maneira de falar, mas a impressão que passa é de uma identificação muito grande do povo com o país, muito maior do que temos aqui...

À noite, decidi tentar uma janta diferente. Saí para procurar um restaurante razoável e escolhi um que tinha todos os cartazes, sinais etc. em hebraico, exceto por um minúsculo aviso de "temos cardápios em inglês". Entrei, pedi o cardápio em inglês, e para minha decepção descobri que eu estava em um restaurante italiano. Para não perder a viagem, fiquei ali mesmo, e pedi um fetuccini Alfredo.

Aqui entra um comentário sobre comida italiana. Existem restaurantes italianos em tudo que é lugar do mundo, inclusive, creio eu, na Itália. Só que me parece que a única coisa em comum entre esses restaurantes é o nome das comidas; o, digamos, conteúdo sofre inúmeras variações. Por exemplo, o "fetuccini carbonara" que se come na Califórnia não é nem parecido com o que se come aqui em Porto Alegre, e não vou nem entrar na comparação entre as pizzas do Pizza Hut e da Cia. das Pizzas. Mais ao ponto... o molho Alfredo que eu conhecia era um molho branco, feito basicamente de queijo. O molho Alfredo que veio continha basicamente cogumelos. Em todo caso, era muito bom, a porção de massa servida era bem generosa, e foi uma bela janta. Mas não era fetuccini Alfredo.

No próximo episódio: chuva e a relação entre política e previsão do tempo.

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